Cheias
O que é uma cheia?
As cheias são fenómenos naturais extremos e temporários, provocados por precipitações moderadas e permanentes ou por precipitações repentinas e de elevada intensidade. Este excesso de precipitação faz aumentar o caudal dos cursos de água, originando o derrame do leito normal e a inundação das margens e áreas circunvizinhas. Nalgumas partes do globo as cheias podem dever-se também ao derretimento de calotes de gelo.
As cheias podem ainda ser causadas pela rotura de barragens, associadas ou não a fenómenos meteorológicos adversos. As cheias induzidas por estes acidentes são geralmente de propagação muito rápida.
Ribeira do Porto (Rio Douro), Dezembro 1989
Os prejuízos resultantes das cheias são frequentemente avultados, podendo conduzir a perda de vidas humanas e bens. O impacte no tecido sócio-económico da região afectada é geralmente significativo, podendo levar à destruição completa de explorações agrícolas e agro-pecuárias entre outras. A prevenção e mitigação do efeito das cheias é, por isso, de extrema importância.
Saída da Golegã para Lisboa (Rio Tejo), 1979
Duração de uma cheia:
O tempo necessário para que uma cheia ocorra e a sua duração dependem das características da bacia hidrográfica do rio em questão. Bacias de pequena dimensão apresentam, geralmente, condições para que uma cheia se forme e propague rapidamente, por vezes em escassas horas. Pelo contrário, em bacias de grandes dimensões, o pico da onda de cheia, e as inerentes inundações, demoram mais tempo a instalar-se, permitindo um aviso mais atempado às populações. Demoram também mais tempo a desaparecer, podendo demorar mesmo vários dias.
Podemos prever uma cheia?
Na maior parte dos casos, é possível prever uma cheia, através das observações meteorológicas e do conhecimento das descargas das barragens, e assim minimizar as suas consequências, avisando antecipadamente as populações através dos meios de comunicação social (jornais, rádio, televisão), e recomendando as medidas de auto-protecção adequadas. Contudo, em casos de inundação súbita, provocada por precipitações intensas e repentinas, associadas a instabilidades atmosféricas de difícil previsão, nem sempre é possível que a população seja alertada com a devida antecipação.
No âmbito da Protecção Civil, a possibilidade de ocorrência de cheias em Portugal Continental começa, geralmente, a ser analisada a partir do Outono, altura em que, normalmente, se inicia o período húmido em Portugal, estendendo-se até à Primavera.
As cheias em Portugal Continental:
As situações de chuva intensa, que originam as cheias, encontram-se associadas a condições de instabilidade atmosférica.
As inundações ocorrem um pouco por todo o país mas as bacias hidrográficas dos médios e grandes rios são as mais afectadas. Os rios Tejo, o Douro e o Sado têm um longo historial de cheias, frequentemente reportadas na comunicação social.
Outros rios apresentam actualmente maior capacidade para evitar a ocorrência de cheias. O rio Mondego, por exemplo, dispõe já de um sistema integrado de regularização (barragens e diques) que reduz a ocorrência de cheias frequentes.
As ocorrências mais graves de cheias em Portugal:
Dos inúmeros acontecimentos históricos registados, destacam-se as cheias que maior impacte tiveram em Portugal Continental:
Instabilidade atmosférica:
As condições climáticas e os regimes pluviométricos que se verificam em Portugal, proporcionados pelos núcleos de baixa pressão, que se formam no Oceano Atlântico, associados a sucessivas frentes húmidas que percorrem o País para leste, provocam períodos alongados de intensas precipitações em vastas áreas de Portugal.
O atravessamento destes sistemas frontais, ao efectuar-se para Leste, pode também afectar o território espanhol registando-se, consequentemente, um acréscimo das afluências às secções fronteiriças, contribuindo para as cheias na parte portuguesa das bacias internacionais.
Outro tipo de fenómenos meteorológicos, distintos dos anteriores, são os de origem convectiva, que produzem precipitações muito intensas e confinadas a uma reduzida dimensão espaço-temporal. Estas situações conduzem geralmente a pontas de cheia elevadas, sobretudo quando afectam as pequenas bacias hidrográficas. Este tipo de fenómenos, pela sua reduzida dimensão espacial, é por vezes de difícil previsão.
NOTICIA:
Braga: EDP defende construção barragens para evitar cheias
O director da produção hidráulica da EDP – Energias de Portugal defende que é necessário aumentar a capacidade de retenção nos afluentes portugueses do Douro, para evitar situações de cheia.
"Temos uma capacidade de armazenamento de água de apenas nove por cento daquilo que poderíamos ter", explicou José Franco, num encontro com jornalistas na barragem do Alto Rabagão, em Montalegre, no distrito de Braga."As barragens actualmente existentes na bacia do Douro não têm, na prática, qualquer possibilidade de contribuir para o amortecimento das grandes cheias do curso principal do rio em território português", explicou.
Assim, a análise dos dados disponíveis confirma que "a ocorrência das cheias se deve, não a caudais excessivos provenientes de Espanha, mas sim aos caudais registados nos afluentes portugueses", sustenta. Entre eles, José Franco destacou o contributo dos sectores Águeda-Côa, Tua-Távora e Tâmega-Paiva, referindo que a solução deverá passar pela construção de barragens com albufeiras de capacidade significativa nesses afluentes, nomeadamente através da construção de novas centrais hidroeléctricas.
Estas, referiu, assegurariam "facilmente as variações normais de carga e são as únicas que podem responder satisfatoriamente às ocorrências acidentais, mesmo em períodos de baixa hidraulicidade". As centrais hidroeléctricas permitem, precisamente, que em períodos de menor utilização de energia (à noite) a água na albufeira seja "puxada" através de um sistema de bombagem, para ser armazenada e posteriormente utilizada.
Com a construção de novas barragens que integrem este sistema, será assim possível à EDP controlar "mais facilmente" uma cheia, porque a água pode ser armazenada, referiu o responsável, lembrando que, "se não existisse a central de Lindoso", as povoações de Ponte da Barca e Ponte de Lima já teriam desaparecido.
É que, apontou, os oito aproveitamentos existentes no curso principal do rio, cujas albufeiras são do tipo fio de água, não possuem praticamente qualquer capacidade de regularização de caudais, não podendo, por isso, contribuir para o amortecimento das grandes cheias.
"Somos acusados de muitas vezes actuar no Douro com teorias economicistas e isso não é verdade. Quando lançamos caudais que provocam inundações na Régua é porque não temos alternativa, porque no Douro a capacidade de retenção de água é muito reduzida", frisou.
Segundo José Franco, por cada aproveitamento hidráulico é feita uma análise em função dos caudais afluentes e evolução das cotas em articulação com o Instituto da Água (INAG), procurando-se dentro do possível minimizar os efeitos quer a montante quer a jusante. Em situações de cheia, sublinhou, a preocupação principal da parte da EDP é precisamente assegurar a salvaguarda de pessoas e bens.
Com uma gestão adequada das albufeiras é assim possível, de acordo com a EDP, tanto em circunstâncias normais como em situações de excepção (cheias e secas), o conhecimento antecipado dos caudais permite tomar decisões que nuns casos supõe um melhor aproveitamento dos recursos e noutros a diminuição, ou anulação de eventuais danos provocados a jusante das albufeiras. Todas as centrais estão, por sua vez, telecomandadas a partir da Régua, referiu.
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